Cardeais foram trancados pela 1ª vez em 1271; Estadão cobre conclaves desde 1878
Trancar os cardeais à chave não foi a solução para que os segredos da eleição do papa ficassem entre quatro paredes. O conclave foi uma forma de constranger os cardeais a apressar o voto para que a Santa Sé não ficasse vaga por longos períodos. Foi o que aconteceu depois da morte de Clemente IV, em novembro de 1268. O cargo ficou sem titular por 2 anos, 9 meses e 2 dias. O expediente foi usado pela primeira vez em 1216, durante a eleição de Onorio III. Na ocasião, os habitantes de Perugia (Itália) trancaram os cardeais para apressar a escolha do novo líder da Igreja.
O conclave foi incorporado ao direito canônico no 1º Concílio de Lyon, durante o papado de Gregorio X, sucessor de Clemente IV, em 1274. O conclave que o elegeu em 1271 fora uma novela. Depois de 17 meses de impasse, por sugestão do futuro São Boaventura, os cidadãos de Viterbo (Itália) trancaram os cardeais. Mas o isolamento não surtiu efeito desejado, e, Ranieri Gatti, governador da cidade, adotou medidas extremas. Retirou o teto do salão onde os cardeais se encontravam e reduziu os mantimentos a pão e água. Só assim Gregorio X foi eleito. O curioso é que foi necessário um religioso fora da cúria para estabelecer o conclave. Gregorio X, ou Tebaldo Visconti da Piacenza, não era cardeal, era diácono da cidade de Liegi (Bélgica). Na lei original, o conclave deveria ocorrer no lugar onde o papa havia morrido, dez dias depois da morte ou no dia seguinte ao sepultamento.
O jornal O Estado de S. Paulo registra a sucessão papal desde 1878, quando Leão XIII foi eleito. Nesses 127 anos de cobertura, além do fato histórico, estão registrados em suas páginas os bastidores de 10 conclaves.
Leão XIII - Joaquim Pecci
Giancchino Vincenzo Raffaele Luigi Pecci nasceu em 2 de fevereiro de 1810 em Carpineto Romano, uma comuna da província de Roma. Eleito papa em 20 de fevereiro de 1878, foi coroado em 3 de março do mesmo ano. Seu pontificado caracterizou-se pela difusão doque se convencionou chamar de Doutrina Social da Igeja Católica.
Através de suas “encíclicas sociais” Leão XIII falava aos Estados Modernos sobre princípios para uma organização política que favorecesse a justiça social. Em 5 de maio de 1888, por meio da Encíclica In Plurimis falou aos bispos do Brasil em favor da abolição da escravidão no País e contra o racismo. Após 25 anos como Pontífice, Leão XIII faleceu em 20 de julho de 1903, aos 93 anos de idade.
Foi eleito aos 68 anos no 3º dia de conclave, na 4ª votação.
Cardeais: 60
Tempo no cargo 25 anos e cinco meses. Morto em 20/7/1903.
PIO X – Giuseppe Sarto
Nasceu em Riese, de uma família pobre, José Sarto foi eleito em 9 de agosto de 1903, quando era Patricarca de Veneza. Concluiu o Código Canônico. Iniciou a publicação da "Acta Apostolicae Sedis", órgão oficial da Santa Sé, que contém leis e documentos no texto integral. Reformou o Catecismo. Combateu os chamados então " erros modernistas".
Estabeleceu a elevação da hóstia e do cálice. Todas as suas atividades eram direcionadas para a santificação dos fiéis. Aconselhou-os a receberem a Eucaristia, se possível, diariamente. Dispensou a obrigação do jejum aos doentes. Ordenou aos párocos a catequese infantil. Realizou em Roma, em 1905, o Congresso Eucarístico. Promoveu a música sacra, em especial o canto gregoriano. Foi cuidadoso com a formação do clero. Fundou o Instituto Bíblico, aos cuidados dos jesuítas. Faleceu em 20 de agosto de 1914
Bento XV - Giacomo della Chiesa
Nasceu em Gênova. Eleito em 6 de setembro de 1914, num conclave de três dias, Bento XV estava com sessenta anos. A Primeira Guerra Mundial estava em curso. Suplicou pela paz, inutilmente. A Itália também entrou em guerra. Bento permaneceu neutro. A Guerra terminou em 1919, com a derrota da Alemanha. Criou 70 dioceses em países do terceiro mundo. Aumentou as sedes diplomáticas da Santa Sé. Publicou o Código de Direito Canônico. Voltou sua atenção para a Ásia e para a África. Morreu em 22 de janeiro de 1922.
O conclave de 1922 contou com a participação de um cardeal latino americano, o brasileiro Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti.
PIO XI – Achille Ratti
Achille Ratti nasceu em Desio, filho de um tecelão. Era cardeal no Arcebispado de Milão e antes de assumir sua sé, passou um mês em retiro no Santuário de Nossa Senhora de Lourdes. Cinco meses depois, com a morte de Bento XV, foi eleito Papa, em 12 de fevereiro de 1922. Assinou a "Concordata" com Mussolini, criando o Estado do Vaticano.
Resolvida a Questão Romana, o Papa tornou-se um rei sem um reino e um general sem exército. Na encíclica Quadragesimo Anno, estabeleceu que a Igreja não se submeteria nem ao capitalismo nem ao comunismo. Mussolini, na Itália, e Hitler, na Alemanha, criaram sérias dificuldades contra a Igreja. Calles, no México, prendeu e fuzilou muitos sacerdotes.
Em 1936, Pio XI ordenou seis bispos chineses em Roma. Trabalhou muito para evitar uma nova guerra. Inaugurou a Rádio Vaticana. Sua morte foi em 10 de fevereiro de 1939.
PIO XII – Eugenio Pacelli
Eleito em 2 de março de 1939, Eugenio Pacelli nasceu em Roma. Estava então com 63 anos. A Segunda Guerra Mundial havia começcado, com a invasão da Polônia por Hitler. Todos os seus apelos em prol da paz foram inúteis.
Embora o tenham como neutro e até às vezes como perseguidor, ajudou os judeus e salvou muitos deles dos campos de concentração da Polônia e da Alemanha. Em 1942, quando os nazistas ocuparam Roma, recusou-se a deixar a Sede Pontifícia.
Em 1944, a Guerra chegou ao fim, suplicou aos vencedores que tivessem misericórdia dos derrotados. Proclamou a doutrina da Igreja como Corpo Místico de Cristo. Lutou contra a perseguição dos regimes comunistas. Em 1950, celebrou o 24º Ano Santo e proclamou o dogma da "Assunção de Maria." Na cripta sob a Basílica de São Pedro, descobriu o túmulo do santo. Morreu em 9 de outubro de 1958.
João XXIII – Angelo Giuseppe Roncalli
O responsável pelo início de uma nova era na Igreja um dos maiores Papas da história foi Giovanni Montini. Originário de Sotto il Monte, Bérgamo, era Patriarca de Veneza, ao ser escolhido Papa, em 28 de outubro de 1958. Vindo de uma família de camponeses e com idade avançada, João XXIII superou as expectativas.
Administrou a Igreja por meio de uma política aberta, explicitada em suas encíclicas Mater et Magistra e Pacem in Terris. Ampliou e abriu o diálogo com católicos e não católicos de todo o mundo. Da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II om o objetivo de renovar a Igreja, tomaram parte 4.000 bispos de todo o mundo.
O "Papa Bom" (Il Papa Bueno) como era chamado, morreu em 3 de junho de 1963.
Paulo VI – Giovanni Battista Montini
Giovanni Battista Montini nasceu em Bréscia. Eleito em 21 de junho de 1963, finalizou o Concílio Vaticano II, em 8 de dezembro de 1965. O Concílio restaurou para a Igreja sua face de serviço - o ministério de ser no mundo o povo de Deus -, libertando-a de uma mentalidade hierarquizante.
Renovou, de modo especial, toda liturgia tornando as celebrações verdadeiras assembléias onde cada um tem sua função. Celebrou o 25º Ano Santo (1975). Foi o primeiro Papa a viajar para fora da Europa.
Em Jerusalém, orou no túmulo de Cristo e abraçou o Patriarca da Igreja Ortodoxa. Participou do Congresso Eucarístico realizado em Bombaim, na Índia, em 1964. Morreu em 6 de agosto de 1978.
João Paulo I – Albino Luciani
Albino Luciani nasceu em Forno de Canale, Belluno. Seu pai era operário numa fábrica de vidros em Veneza. Eleito em 26 de agosto de 1978, foi o primeiro Papa a escolher um duplo nome. Recusou a cerimônia da coroação. É conhecido como o Papa do sorriso. Governou a Igreja apenas 33 dias. Morreu de infarto, durante o sono, em 28 de setembro de 1978.
Eleito aos 65 anos no 2º dia de conclave depois de quatro votações.
Cardeais: 62
- Participaram da eleição de João Paulo I, dois cardeais que seriam papas, João Paulo II e Bento XVI.
- João Paulo I rompeu com a tradição da coroação. O primeiro ritual litúrgico a inaugurar o pontificado do papa eleito passava a ser a celebração da primeira missa de domingo.
1.ª Missa em 3/9/1978
Tempo no cargo: 33 dias. Morto em 28/9/1978.
Sede vacante depois da morte: 18 dias
João Paulo II – Karol Józef Wojtyla
O polonês Karol Wojtyla tinha só 19 anos, quando Hitler atacou a Polônia. Foi preso e enviado para a Sibéria, onde os nazistas o obrigaram a cortar pedras. Teólogo, escritor e poeta, ordenou-se sacerdote em 1949 e dedicou-se ao trabalho paroquial, apesar da perseguição comunista.
Chegou ao Arcebispado de Cracóvia que ocupava ao ser eleito Papa, em 16 de outubro de 1978. Foi sagrado com o nome de João Paulo II, em 22 de outubro desse mesmo ano. Natural de Wadowice, o sucessor de João Paulo I é o primeiro Papa não-italiano, desde Adriano VI (1522 a 1523). Foi convidado a falar na ONU, em 2 de outubro de 1979.
Chega agora à Polônia, outra vez. Mas visitou quase todos os países do mundo, insistindo na salvação que Cristo trouxe à humanidade por meio de sua cruz, e na igualdade entre ricos e pobres.
Durante uma audiência na Praça São Pedro, em Roma, em 13 de maio de 1981, foi gravemente ferido num atentado com arma de fogo. Nos encontros com governantes de todo o mundo tem exigido o fim de todas as formas de opressão.
Seus incontáveis atos, discursos, encíclicas, exortações apostólicas e demais documentos exercem um papel fundamental na orientação dos cristãos e de toda a comunidade humana. É considerado em muitas instâncias como o homem mais influente do mundo de hoje. A ele se atribui a maior responsabilidade pelo fim do comunismo no mundo, sinalizada especialmente pela queda do Muro da Vergonha, o muro que dividia Berlim como prêmio da Segunda Guerra entre Estados Unidos e a extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Jornalistas especializados com Karl Bernstein, um dos autores da reportagem Caso Watergate que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon e o vaticanólogo Marco Politi, que juntos escreveram o livro Sua Santidade, arriscam dizer, em sua análise, que João Paulo II foi o homem mais importante da história do Século XX.
Eleito aos 58 anos no 3º dia de conclave após oito votações.
Cardeais: 62
1.ª missa em 23/10/1978
Tempo no cargo: 26 anos e cinco meses. Morto em 2/4/2005.
Sede vacante depois da morte: 17 dias
- João Paulo II teve o papado mais longo do século 20.
- Foi o primeiro papa a visitar o Brasil. Esteve por aqui três vezes.
- Foi o primeiro papa não-italiano desde 1523.
Bento XVI – Joseph Ratzinger
Joseph Ratzinger nasceu na Marktl am Inn, na Baviera (Alemanha), em 16 de abril de 1927. Era sábado de Aleluia e um presságio acompanhou a criança: foi a primeira batizada com a nova água batismal. A adolescência passou em um seminário regional onde viu os potentados marrons - como chamava os nazistas - dominarem seu país e levá-lo à guerra. Arrolado no Exército, o jovem desertou. Depois da guerra, voltou aos estudos de teologia. Padre por pouco tempo em uma paróquia de Munique, foi lecionar em diversas universidades alemãs até concluir o doutorado.
Em 1966, identificou o que achava ser as primeiras tendências inquietantes na renovação da Igreja. Um "certo espírito partidário" levava para a igreja o dilema do século: reforma ou revolução. Sentiu então a fé ameaçada e não titubeou. E assim foi até o fim. Preocupou-se com a mudança da liturgia ocorrida também sob Paulo VI - a antiga, fixada pelo Concílio de Trento, foi abandonada e proibida. Ratzinger uma vez mais enxergou nessa ruptura uma ameaça à fé e à unidade da Igreja. Disse que não havia como mudar a forma de orar dos fiéis sem alterar sua crença.
Foi nomeado para a Comissão Teológica Internacional, na qual trabalhou com dois dos pensadores que mais o influenciaram: Henri de Lubac. Ratzinger se tornou cardeal de Munique pelas mãos de Paulo VI, em 1977. Participou da escolha de João Paulo I e de João Paulo II, de quem seria um dos principais colaboradores - em 1981, nomeou-o prefeito da Congregação da Doutrina da Fé. Em 2005, foi sua vez de se tornar papa. Visitou em 2007 o Brasil e canonizou Frei Galvão. Foi um papa de poucas viagens, se comparado a seu antecessor, João Paulo II.
Em 2010, fundamentou a futura renúncia, dizendo que, quando um papa tem a consciência de que lhe falta condição física ou espiritual para o cargo, ele, mais do que o direito, tem o dever de se demitir.
Em 11 de fevereiro de 2013, Bento XVI anunciou sua renúncia. O pontífice disse que deixaria o cargo devido à idade avançada - 85 anos - e por não ter mais força para cumprir os deveres.
Eleito aos 78 anos, no 2º dia de conclave depois de quatro votações.
Cardeais: 52
1.ª missa em 23/4/2005
Tempo no cargo: 7 anos e 10 meses.
Sede vacante desde 28/2
Foi o segundo papa a sair voluntariamente do cargo.
O primeiro foi Celestino V em 1294.
Nenhum comentário:
Postar um comentário