A busca da virilidade perdida e os 15 anos do Viagra
O retorno do vigor sexual é promessa há mais de um século; a revolução veio com os vasodilatadores
Do Vinho Caramurú com sua mensagem bíblica "levanta-te e anda" até o Viagra, que há 15 anos foi liberado para o uso, a busca do homem pela ereção perdida foi repleta de promessas. É o que testemunham os anúncios publicados no Estado desde o começo do século 20.
O Vinho Caramurú, foi um dos primeiros produtos veiculados no jornal que prometiam devolver a virilidade masculina. Ele foi publicado em 8 de março de 1900. A disfunção erétil, ou impotência sexual, teve vários nomes durante mais de um século de anúncios. Foi, por exemplo, fraqueza genital, fraqueza do sistema 'nervo-sexual', debilidade genital e amortecimento genital.
Como as causas não eram claras, na maioria das vezes a disfunção erétil era associada à perda de vigor, à idade ou, genericamente, aos problemas glandulares. Era o que anunciava o Glantona, em 1939. O produto "restabelece as funções glandulares, imprimindo-lhes nova energia propulsora. Transforma em perene mocidade, vidas sombrias, torturadas pela perda da virilidade." Outros produtos diversos aproveitavam a falta de clareza do problema e entravam na briga pelo mercado da virilidade, como era o caso da aveia Quaker Oats, que em 1939 "prometia um alimento com ingredientes que produzem energia, força e virilidade". Ou do 'Fosfosol' que era indicado para tudo, desânimo, perda de memória, falta de vitalidade sexual etc.
"Você ainda não é um fracassado! Reconquiste sua virilidade livrando-se dêsse terrível complexo de inferioridade que o deprime moral e fisicamente", anunciava a Catuase Composta em 1955. Na sua fórmula, além de diversas substâncias "da nossa flora" e de um "hormônio cerebral e testicular", havia um alcaloide extraído do "Loimbehôa" (sic)
Vasodilatador. Hoje não é possível saber se o inventor da fórmula da Catuase Composto tinha algum ideia ou informação de que um vasodilatador, no caso o alcaloide, seria o início do caminho que daria uma resposta a boa parte dos casos de disfunção erétil.
Antes do Viagra e congêneres, se percebia a ereção como efeito colateral durante o uso de vasodilatadores. É o que acontece com pacientes que sofrem de angina ao colocar um vasodilatador de efeito imediato sob a língua. Era o que acontecia durante a década de 1970 entre aqueles que usavam os 'poppers', outro remédio para angina que quando aspirado tinham ereção e relaxamento muscular. O 'popper' recebeu esse nome por causa do barulho da abertura da ampola. Hoje é uma substância ilícita.
Conhecido o caminho, faltava saber a dose e a forma. Para o médico Elsimar Coutinho a revolução na luta contra a impotência se iniciou há três décadas com uso de prostaglandina diretamente no pênis, seja com injeção ou pomada. Antes os vasodilatadores já eram administrados com supervisão médica, mas não se tinha controle dos efeitos e causavam muitos 'incidentes desagradáveis' explica Coutinho. Algumas vezes era necessário aspirar o sangue do pênis. A revolução que as pílulas trouxeram foi no controle da ereção. Mas, mesmo assim, outros tratamentos com ação local ainda são utilizados naqueles pacientes que apresentam reações adversas ou têm problema de coração. Outro efeito colateral das pílulas foi sentido nos consultório médicos. Como elas são vendidas sem receitas, o papel do médico no tratamento da impotência diminui. Eles sumiram dos consultórios, constata Coutinho.
Algumas promessas antes do Viagra
1905 - Um cinturão de eletricidade prometia a 'recuperação de tudo o que fora perdido'
1913 - Mecanoteria para a cura da impotência
1918 - Globéol, um medicamento para ideal para revivificar e refazer o organismo
1918 - O Elixir Sorèt, um reconstituinte genital que garantia 'o retorno da força natural perdida'
1924 - Emulsão de Scott, um remédio que produz robustez e energia também na velhice
1930 - Quaker Oats, um alimento com ingredientes que produzem energia, força e virilidade
1936 - Tônico Bayer prometia alegria, força, disposição e juventude
1937 - Virilase, comprimidos indicados para o combate da impotência
1937 - Glandophile, drágeas feitas de glândulas de touros para restituição do vigor
1939 - O 'poderoso tônico sexual' Forsex prometia o fim da impotência masculina
1944 - Revigorador Virilase, para o homem que quer 'conservar seus atributos e sua força'
1950 - Pansexol indicado para a 'debilidade sexual de homens e mulheres
1955 - Catuase Composta prometia virilidade e o fim do complexo de inferioridade
1960 - Tanagran, fórmula especial para mulheres. Um combate à 'frieza das mortas vivas'
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