quinta-feira, 29 de agosto de 2013

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'É uma vergonha', diz pai de Kevin sobre briga de presos de Oruro
Limbert Beltran se revolta ao saber que dois torcedores acusados de matar seu filho estavam em tumulto no Mané Garrincha


Limbert Beltran ainda não digeriu que a Justiça boliviana tenha arquivado o processo sobre a morte de seu filho, Kevin Beltran Espada, no jogo entre Corinthians e San Jose, pela Libertadores, no dia 20 de fevereiro. Nesta quarta (28), em entrevista ao Estado, ele ficou sabendo que dois torcedores que estiveram presos em Oruro acusados da morte do seu filho e foram soltos por falta de provas participaram de uma briga no estádio Mané Garrincha no domingo. E não se conteve.

“Quando fico sabendo disso, fico com mais raiva. Quero ver o que vão dizer dirigentes que se envolveram no episódio, como Marin (presidente da CBF), ou o Mário Gobbi, do Corinthians. Pelo o que eu entendi ele não tem filhos, então como entenderá a dor de um pai? Isso é resultado da força das pessoas que movem mundos. Aqui não temos forças para lutar”, disse, bastante incomodado.

O pai do garoto que foi morto por um sinalizador lançado do setor da torcida corintiana garante que houve muita pressão para que os 12 torcedores que estavam presos em Oruro fossem liberados. “O Ministério da Justiça do Brasil, a embaixada, até mesmo o Corinthians, todos pressionaram para que seus compatriotas fossem soltos. Isso inclui os deputados que vieram para cá para exigir a liberação dos detentos.”

Beltran tomou conhecimento ontem que Leandro Silva de Oliveira, o Soldado, e Cleuter Barreto Barros, o Manaus, participaram de uma briga com torcedores do Vasco. Os dois estavam entre os 12 presos de Oruro e foram identificados pelo Estado por meio de imagens. “É uma vergonha. A indignação é porque não conseguimos mantê-los aqui, perdemos o apoio da Justiça boliviana, que se deixou manipular pelas pessoas que vieram para cá para colaborar com a liberação dos presos. E quando digo que é uma vergonha, também falo dos presos, que sempre falaram que eram inocentes, que estavam pagando por um delito que não haviam cometido, e nós sempre dissemos que o garoto de 17 anos que se apresentou aí no Brasil como culpado era algo orquestrado por eles, simplesmente para soltar os 12 presos.”

Ele conta que a Justiça de seu país arquivou o caso e, no fundo, acredita que se realmente os 12 presos fossem inocentes, eles deveriam seguir com o processo em frente. “Agora fico sabendo de dois que participaram de uma briga no estádio e fico com raiva, pois vejo a minha impotência em lidar com tudo isso. Acho que as pessoas não aprenderam a lição no período que estiveram detidas. Elas continuam se comportando como querem, se deixam levar pela ira e não enxergam as consequências de seus atos. Elas não se importam em causar danos ou destroçar famílias”, diz, garantindo que não tem dúvidas de que algum torcedor que esteve preso em Oruro tem culpa na morte do seu filho.

Beltran também se sente impotente para continuar sua tentativa de esclarecer o episódio. “Quando vocês me contam isso (torcedores envolvidos em uma briga), sinto que não nos equivocamos, mas infelizmente havia um custo legal e não estávamos acompanhados por ninguém. Tivemos de enfrentar tudo sozinhos, com a ajuda de um ou outro à distância.”

DEFESA
Nesta quarta, no início da noite, Gobbi publicou uma nota oficial no site do Corinthians. No texto, o dirigente diz que “defendi, sim, os 12 torcedores de Oruro, já que contra eles naquele episódio específico não havia prova que justificasse suas prisões. Entretanto, eu nunca disse que aqueles 12 torcedores teriam salvo conduto ou que jamais estariam envolvidos em problemas futuros. Se agora o estão, que pese sobre eles a lei, a mesma lei que os tornou livres anteriormente.”

Gobbi também alega que não é função do clube penalizar eventuais responsáveis por casos de violência no futebol. “Essa questão de investigar, identificar e punir os culpados não é obrigação do Corinthians ou de qualquer outro clube, ou entidade esportiva. Cabe tão somente aos poderes do Estado”, diz.

O dirigente, que dedicou os títulos do Paulista e da Recopa aos torcedores presos em Oruro, pediu um debate mais amplo. “Já vimos o fim das bandeiras, a extinção de torcidas, jogos com portões fechados, jogos em praças distantes e nada disso resolveu o problema da violência. Ou tratamos a questão com a responsabilidade que ela exige, ou estaremos daqui a uma semana, um mês ou um ano apontando mais uma solução genial para o tema.”

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