terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
Você está em Economia Caem os lucros dos grandes bancos
Itaú, Bradesco e Santander, juntos, ganharam R$ 27,7 bilhões em 2012, queda de 5,3%; a primeira desde o auge da crise global em 2008
Pela primeira vez desde o auge da crise global, o lucro somado dos três maiores bancos privados do País caiu de um ano para o outro. Levantamento da empresa de informações financeiras Austin Rating feito a pedido do 'Estado' mostra que Itaú, Bradesco e Santander, juntos, ganharam R$ 27,7 bilhões no ano passado, o que significou um recuo de 5,3% ante o exercício anterior.
Individualmente, Itaú e Santander viram seus resultados encolherem em 2012, enquanto o Bradesco conseguiu lucrar 3,2% a mais, um porcentual baixo se comparado ao dos anos recentes no sistema financeiro brasileiro.
O desempenho apenas modesto para um segmento da economia que se acostumou a acumular recordes é explicado por três fatores. O primeiro é o aumento da inadimplência ao longo de quase todo o ano passado, que obrigou as instituições a fazerem pesadas provisões contra perdas. Considerando os mesmos três bancos, essas despesas avançaram quase 27%, para R$ 48,3 bilhões.
"O ano de 2012 foi marcado por uma grande subida nas provisões para devedores duvidosos", disse o presidente do Itaú, Roberto Setubal, na apresentação de resultados anuais. Em grande parte, explicou, a inadimplência decorreu da concessão farta de crédito em 2010, quando a economia cresceu 7,5%.
'Exagero'. Os principais problemas apareceram nas carteiras de pessoas físicas, notadamente no financiamento de automóveis. "Em 2010, houve um certo exagero", reconheceu Setubal, citando a oferta de empréstimos para a compra de carro zero quilômetro sem nenhuma entrada.
Ou seja, os bancos financiavam, naquela ocasião, 100% do valor do veículo. "Como o carro se desvaloriza assim que sai da agência, nossas garantias logo de cara já não mais equivaliam ao valor financiado."
O Itaú foi o único entre os três grandes privados a mostrar uma tendência consistente de queda nos indicadores de inadimplência no quarto trimestre. No Bradesco, o indicador ficou praticamente estável e, no Santander, subiu um pouco.
Mas a tendência é de melhora para todos ao longo de 2013, como explica o analista de instituições financeiras do Goldman Sachs, Carlos Macedo. "Só agora estamos saindo desse ciclo de inadimplência", disse.
Esse cenário de maior risco levou ao segundo fator que ajuda a explicar o ano mais fraco para os grandes bancos privados: menor expansão do crédito. A carteira total do Itaú avançou 6%, a do Bradesco, 8,3% e a do Santander, 7,6%. Nos três casos, a expansão foi bem inferior à do mercado, de 16,2%, segundo os dados do Banco Central (BC).
Por fim, todos os bancos brasileiros foram afetados pela redução da taxa básica de juros (Selic) para os menores níveis da história do País. "Estamos inaugurando um novo capítulo no sistema financeiro brasileiro", afirmou o analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu. "É um momento semelhante ao do fim da inflação, com o Plano Real."
O analista explica que, naquela época, os bancos conseguiam ganhar dinheiro com a situação econômica - fundamentalmente, beneficiando-se da diferença entre operações nas quais não remuneravam de acordo com a inflação, mas recebiam de acordo com ela. "Esses ganhos encobriam a ineficiência operacional", observa Santacreu.
Juros. Hoje, a situação é semelhante, ainda que menos dramática. A taxa de juros tradicionalmente elevada no País permitia aos bancos um ganho expressivo aplicando em títulos públicos, nos quais o risco é praticamente zero. Por isso, todos no setor elegeram eficiência como a palavra de ordem do momento.
"Temos muito a fazer", afirmou Setubal. "Ao menos temos conseguido, nos últimos anos, expandir as despesas abaixo da variação da inflação." Além de cuidar da gestão, os bancos trabalham para aumentar o compartilhamento com os concorrentes.
No Brasil, cada instituição tem seu próprio sistema para transporte de valores. Em outros lugares do mundo, o sistema é único e as despesas são divididas entre várias instituições. Outro exemplo diz respeito aos caixas eletrônicos. Aqui, os grandes bancos têm redes próprias.
"Mas essa questão vai muito além dos caixas eletrônicos e do transporte de cédulas", observou Setubal. "Há muitas questões, e algumas delas passam pela necessidade de mudanças na legislação." Ele disse que haverá novidades sobre este assunto ainda em 2013. "Estamos trabalhando, fazendo pilotos (com outros bancos)."
Um levantamento da Economática revela que 2012 foi o ano com a mais baixa rentabilidade dos últimos anos para os grandes bancos. No Itaú, o retorno sobre o patrimônio de 18,07% foi o menor desde 1997. No Bradesco, a rentabilidade de 17,5% foi a mais baixa desde 1999. O Santander, mais novo no País, voltou aos níveis de 2009.
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