Movimento iniciado por filho de Vladimir Herzog, morto pela Ditadura, tem Marin como alvo
Um movimento iniciado nesta semana na internet está pedindo a saída do presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), José Maria Marin, da direção da entidade máxima do futebol nacional. Encampada por Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, morto pela Ditadura Militar nos anos 70, a petição online já atingiu mais de 12 mil assinaturas em apenas quatro dias. A troca já pedida por setores da sociedade seria a segunda na CBF em menos de um ano.
Aliado do regime na época, integrando o Arena (partido criado pelos militares), Marin teve o seu passado político trazido à tona por movimentos sociais que pediam a criação da Comissão da Verdade e, mais recentemente, pelo jornalista inglês Andrew Jennings, especialista no submundo do futebol, e que redigiu um longo artigo, colocando o atual presidente da CBF como um dos principais “incentivadores” para a prisão de Herzog, então diretor da TV Cultura, de São Paulo.
Tais movimentos e notícias fizeram Ivo Herzog se engajar e criar uma petição online na última segunda-feira (18), a qual pede a saída de Marin do comando da CBF. A meta de 50 mil deve ser atingida nos próximos dias, na opinião do diretor do Instituto Vladimir Herzog, organização não-governamental criada para preservar a memória do jornalista
No final do ano passado descobrimos alguns documentos mostrando o envolvimento do Marin na morte do meu pai (em 25 de outubro de 1975, na sede do DOI-CODI, em São Paulo). Somando isso ao artigo do jornalista inglês (Jennings), que aprofundou o tema, eu fiquei indignado. Na segunda-feira, o Juca Kfouri (colunista do jornal Folha de São Paulo) publicou uma resposta que teve de dar ao Marin na Justiça, já que ele está sendo processado por ele. Lendo aquilo tudo, passei a ver o que podia ser feito e decidi usar esse modelo de petição. O que podíamos fazer para dar mais visibilidade? Então começamos a fazer esse trabalho também nas redes sociais, as adesões estão acontecendo mais rápido do que eu imaginava.
Ivo Herzog tem consciência de que a petição, na prática, não tem qualquer poder para forçar Marin a deixar o comando da CBF. Aos 80 anos, ele assumiu a entidade em março do ano passado, logo após a renúncia do então presidente Ricardo Teixeira. A meta do movimento é na verdade trazer o assunto para ser discutido pela sociedade.
— Queremos que seja noticiado, que as pessoas se atentem ao que aconteceu e está acontecendo. Estamos tendo adesões também do exterior, acho que o tema não diz respeito apenas ao Brasil. É esse tipo de gente que queremos que recepcione os nossos convidados durante a Copa do Mundo (a ser realizada em 2014, no Brasil)? Ele (Marin) fez discursos de apoio ao regime militar, um ano após a morte do meu pai. É um absurdo isso, enquanto estávamos reunidos em uma missa na Catedral da Sé, algo que representou o início da redemocratização, ele promovia o regime, o estado de violência, aquela coisa fascista.
O principal discurso que ligaria Marin à morte de Vladimir Herzog foi o proferido pelo hoje presidente da CBF, que na época era deputado estadual em São Paulo (já havia sido vereador, nos anos 60, e depois foi governador biônico, entre 82 e 83), no dia 9 de outubro de 1975. Em sessão que debatia a “presença de membros de esquerda na TV Cultura”, Marin pedia que medidas fossem tomadas na emissora estatal, cujo jornalismo era então dirigido por Herzog.
— Quero fazer um apelo ao senhor governador do Estado: ou o jornalista está errado ou então o jornalista está certo. O que não pode continuar é essa omissão, tanto por parte do senhor secretário de Cultura, como do senhor governador. É preciso mais do que nunca uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar não só nesta Casa, mas, principalmente, nos lares paulistanos – disse Marin naquela sessão na Assembleia Legislativa paulista, segundo arquivos do Diário Oficial.
Os elogios que Marin fez ao ex-delegado de polícia Sérgio Paranhos Fleury, tido como um dos comandantes da tortura durante o regime militar, feitos em outra sessão na Assembleia, em 7 de outubro de 1976, serviram de incentivo para Ivo Herzog participar do movimento contra o presidente da CBF. Não só isso: ele gostaria de ter a chance de debater, frente a frente, com Marin.
— Gostaria de conversar com ele (Marin) e saber se ele pensa hoje como pensava antigamente. Gostaria de ouvir, no mínimo, um pedido de desculpas, saber se o arrependimento existe, já que todo mundo faz coisas errados, mas não sei se ele tem algum arrependimento daquela época. Quem é o Marin? Peço uma resposta. Ele deu uma entrevista no ano passado, dizendo que não disse aquelas coisas, mas está registrado no Diário Oficial, não é ficção. Meu pai foi assassinado, como o Fleury pode ser herói?
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